Bombardeios em Gaza atingem escolas da ONU e agravam crise humanitária

Ataques danificaram dois terços das escolas da UNRWA usadas como abrigos e mataram dezenas, incluindo mulheres e crianças

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Em meio a intensos bombardeios no norte, centro e sul de Gaza, o chefe da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, confirmou nesta quarta-feira (10) que escolas transformadas em abrigos foram atingidas.

Nos últimos dias, quatro instalações foram bombardeadas, elevando para dois terços o número de escolas da UNRWA danificadas desde o início da guerra. Em declaração, os militares israelenses afirmam estar mirando “infraestrutura e agentes terroristas” na Cidade de Gaza.

Sob fogo

Na terça-feira (9), um ataque israelense próximo a um prédio escolar que abrigava moradores deslocados em Khan Younis, no sul de Gaza, matou pelo menos 25 pessoas, segundo as autoridades de saúde do enclave.

No sábado (6), um ataque deixou pelo menos 16 mortos em uma escola da UNRWA em Nuseirat, no centro de Gaza. No dia seguinte, outra escola na Cidade de Gaza que abrigava centenas de pessoas também foi atacada.

Além disso, a diretora de Comunicações da UNRWA, Juliette Touma, relatou novos bombardeios em uma escola da agência em Nuseirat nesta segunda-feira.

Palestinos verificam os danos após um ataque aéreo israelense na área de El-Remal, na Cidade de Gaza, em 9 de outubro de 2023 (Foto: WikiCommons)
Não há lugar seguro

A agência da ONU, a maior operadora humanitária em Gaza, fechou todas as suas escolas quando a guerra eclodiu em 7 de outubro, após ataques do Hamas no sul de Israel, que resultaram em cerca de 1,1 mil mortos e mais de 250 reféns.

Juliette Touma afirmou que a maioria das escolas foi transformada em abrigos, e desde então um milhão de pessoas já buscaram refúgio nesses locais.

Ela acrescentou que muitas das vítimas dos últimos ataques às escolas eram mulheres e crianças, com mais da metade das instalações da UNRWA atingida, a maioria sendo escolas.

Segundo Touma, algumas foram completamente bombardeadas e estão fora de funcionamento. Desde o início da guerra, pelo menos 600 mil crianças viram suas unidades de ensino fechados.

Geração perdida

Com as escolas sendo usadas como abrigo, ela alertou que a continuação da guerra significa “perder uma geração inteira de crianças”. Para Touma, “quanto mais tempo elas ficarem fora da escola, mais difícil será para recuperar as perdas educacionais”

Além disso, ela afirmou que fora das escolas, as crianças ficam mais vulneráveis a serem vítimas de exploração, incluindo trabalho infantil, casamento infantil, mas também recrutamento para grupos armados e recrutamento para os combates.

Em resposta às alegações de que as escolas estariam sendo usadas por combatentes ou afiliados do Hamas, ela insistiu que nenhuma instalação da ONU deveria ser usada para fins militares e reiterou os apelos de Lazzarini para a abertura de “inquéritos e investigações independentes” sobre as alegações.

A representante da UNRWA insistiu que infraestrutura civil, incluindo escolas, abrigos, outras instalações como saúde, clínicas ou hospitais, deve ser protegida em todos os momentos, inclusive em tempos de conflito.

Aumento do número de vítimas

O Fundo de População da ONU (UNFPA) alertou que a situação humanitária em Gaza continua piorando, com “sofrimento severo” sendo agora a norma.

Citando as autoridades de saúde de Gaza, a agência disse que cerca de 38 mil palestinos já foram mortos e mais de 87 mil ficaram feridos, com alimentos, abrigo, saúde e recursos de subsistência “criticamente baixos”.

Em todo o enclave, cerca de 1,9 milhão de pessoas permanecem desalojadas à força pelo conflito, muitas vezes repetidamente, e pelas ordens de evacuação emitidas pelos militares israelenses.

Os habitantes de Gaza vivem em “barracas, abrigos superlotados ou nas ruas, sem necessidades básicas” e vivem com o “sentimento generalizado de desesperança e pouca perspectiva de voltar para casa ou de acabar com o conflito”.

Bloqueio de suprimentos

Segundo o UNFPA, “graves obstáculos” continuam dificultando a chegada da ajuda humanitária aos necessitados. A agência cita “fechamentos de pontos de passagem e obstáculos burocráticos que impedem a assistência vital”.

A entidade disse ainda que o colapso da lei e da ordem em Gaza aumentou o roubo e a violência, colocando em risco os trabalhadores humanitários e suas operações.

Médicos relatam um aumento de bebês prematuros e com baixo peso, “indicadores de desnutrição severa exacerbada pelo estresse e medo entre as grávidas”. A agência também destacou o alto risco de violência baseada em gênero enfrentado por mulheres e meninas adolescentes, “especialmente as deslocadas, viúvas ou desacompanhadas”,

Apesar dos desafios, o UNFPA distribuiu serviços essenciais de saúde sexual e reprodutiva e de violência baseada em gênero em Gaza e na Cisjordânia.

A agência da ONU e seus parceiros também estabeleceram duas unidades de saúde materna para partos de emergência, forneceram produtos de higiene menstrual a milhares de mulheres e meninas, apoiaram pontos médicos móveis e enviaram equipes de saúde sexual e reprodutiva para abrigos.

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