Por Lúcio Carril
Para a ministra Marina Silva, a não pavimentação da BR-319 se tornou ums birra. Agora é uma questão de honra manter a estrada cheia de buracos, pontes velhas e o Amazonas isolado do restante do Brasil.
Com ela, faz coro um pequeno segmento do movimento ambientalista, justamente os preservacionistas, uma corrente surgida nos Estados Unidos, no século XIX.
Essa tendência trouxe para o Brasil a ideia de “região selvagem”, um mito de criação do paraíso sem a presença do ser humano. Uma concepção nada científica, que coloca o ser humano além da natureza, como criação de Deus.
Esse criacionismo foi desconstruído por Charles Darwin, ao provar que a evolução das espécies é resultado de seleção natural e sexual, ou seja, ser humano e natureza vivem numa interação dialética.
Infelizmente, e para o azar dos povos da Amazônia, Marina Silva e seus asseclas são criacionistas e defendem o “mito da natureza intocada”, uma ideia paradisíaca da natureza como espaço utópico, desconsiderando a presença de milhões de brasileiros que vivem aqui.
Nós, povos da Amazônia, existimos. Somos nós os responsáveis por 98% da nossa floresta preservada. A BR-319 foi criada na década de 70, ainda no regime militar, assim como foi criada na década anterior a Zona Franca de Manaus, dois projetos de desenvolvimento e integração nacional que não resultaram em desmatamento.
Na semana passada, vi um conhecido biólogo dizer que o fumaceiro em Manaus é resultado da grilagem de terra e da expansão da pecuária no entorno da BR-319. Disse, ainda, numa premonição apocalíptica, que a pavimentação da estrada será o fim da floresta no seu entorno.
Ora, a 319, quando tinha boa estrutura, não resultou nisso. Como eu disse, 98% da nossa floresta está preservada.
Se a estrada sem uma pavimentação cidadã e responsável está servindo de trilha para o crime, tem alguma coisa errada aí. O crime chega, mas o Estado não. Ou seja, deixar a BR-319 do jeito que estar só facilita o tráfego do crime, que tem carros tracionados, tratores, helicópteros, aviões e jagunços.
Ser contra a pavimentação de uma estrada para dar acesso à nossa gente é de uma irresponsabilidade pública sem tamanho. Nós temos números para provar que sabemos conservar nosso patrimônio natural e somos anteriores à ministra Marina Silva e seus pupilos criacionistas.
Tirem as mãos da BR-319. Deixem a estrada ser pavimentada. Nós temos direito a alimentos mais baratos e até mesmo a passear para outros estados. Larguem de preconceito contra nossa gente.
Se preocupem em exigir que o Estado brasileiro impeça o crime organizado e a grilagem de continuarem desmatando, tocando fogo e matando nossos indígenas e caboclos. Manter nossos povos sem acesso à cidadania e ao direito de ir e vir não pode ser política pública. Isso se chama incompetência e falta de compromisso social.
Lúcio Carril
Sociólogo